Notícias de imprensa

10-11-2004
Pode Bolonha acabar com os licenciados?
 

Que fazer aos graus académicos tradicionais, com a Declaração de Bolonha? Esta é uma das questões em análise num fórum que reúne, em Coimbra, as ordens profissionais.

 

A Declaração de Bolonha vai fazer mudar tudo, em matéria de formação superior e acesso às profissões. Entre outras alterações, prevê-se que o grau académico de base venha a ser adquirido logo ao fim do primeiro ciclo de estudos, de três anos. Os segundo e terceiro ciclos terão, então, equiparação a pós-graduações, sendo o segundo, de dois anos, correspondente ao actual mestrado.

Este cenário enfatizado pelo responsável, na região Centro, da Ordem dos Engenheiros, Celestino Quaresma tem, desde logo, uma consequência: um dos graus académicos actuais vai “cair”. Ora, a tentação é para que se abdique do bacharelato, fazendo recuar a licenciatura para o ciclo inicial. Mas pelo desconforto que é designar os actuais bacharéis de licenciados, mas também porque a tradição portuguesa é de bacharéis e, na Europa, licenciado é coisa que não se conhece, o melhor, mesmo, é acabar com este republicano e pouco popular grau.

Por este exemplo, naturalmente redutor e, até, um tanto ou quanto exagerado, se alcança a dimensão dos problemas que a Declaração de Bolonha vem colocar. Daí que se entenda a preocupação das ordens profissionais, tal como se assiste, já, ao expressar público de um amplo conjunto de receios, na comunidade universitária. O processo de formação, inicial e contínua, o acesso às profissões, mais do que a desejada mobilidade no seio da União Europeia, são matérias cuja discussão (e entendimento) não tem mais sentido adiar.

 

Ordens profissionais

assumem preocupação

 

Em Coimbra, por isso, o Fórum Regional do Centro das Profissões Liberais vai organizar, a 12 e 13 de Novembro, o seminário “Reflexos da Declaração de Bolonha”. A conferência de abertura é da autoria de Adriano Moreira. Segue-se uma mesa redonda com palestras de José Miguel Júdice (“O acesso às profissões”) e de Jorge Silva, coordenador do processo de Bolonha para a Medicina Veterinária (“Empregabilidade e formação ao longo da vida”).

Componente importante do seminário como ontem sublinhou Fernando Ramos, da Ordem dos Farmacêuticos é a discussão conjunta, em workshops, dedicados aos temas já referidos. No último dia, a mesa redonda programada tem intervenções de Aranda da Silva “A Declaração de Bolonha e o desenvolvimento profissional contínuo”) e Cristina Robalo Cordeiro (“Quem tem medo do Processo de Bolonha”). A sessão de encerramento conta com uma conferência de Sebastião Feyo de Azevedo, coordenador nacional do processo.

A actualidade e acuidade do tema prometem discussão interessante e intensa. Desde logo porque como acentuou José Augusto Ferreira da Silva, da Ordem dos Advogados tem havido, nas diferentes ordens profissionais, graus diferentes de análise deste processo. É que, sublinhou, não há comparação possível entre as implicações por exemplo, na mobilidade da Declaração de Bolonha nas ciências ou no Direito. “Um engenheiro facilmente construirá pontes na Dinamarca, mas um advogado português dificilmente poderia exercer em Inglaterra”, concluiu.

 

Paulo Marques

Notícia publicada no dia 10/11/2004 no jornal "As Beiras"



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