Notícias de imprensa

23-10-2004
Faltam saídas profissionais
 

A criação de faculdades “de lápis e papel” foi criticada, ontem, pelo presidente do CD Coimbra da OA, que exige mais saídas profissionais.

 

A sessão solene de abertura do 2.º Curso de Estágio de 2004, que decorreu, ontem à tarde, no Auditório do Conselho Distrital de Coimbra da Ordem dos Advogados, serviu para um alerta à navegação. Ferreira da Silva, presidente do Conselho Distrital, afirmou que “quem criou faculdades de direito de papel e lápis, não cuidou de criar alternativas no capítulo das saídas profissionais”. A vocação esteve, também, na ordem do dia com o dirigente a garantir que só uma pequena parte dos estagiários querem ser advogados. Segundo Ferreira da Silva, a Ordem dos Advogados não tem intenção de “matar” uma parte dos novos advogados e que, nesse sentido, o organismo “não tomará medidas administrativas” de modo a limitar o acesso à profissão. “Dar estágio e o melhor estágio possível” é o objectivo para o 2.º curso de estágio, que terá a “exigência” como principal referência.

A qualidade das instalações do Conselho Distrital - “acabaram as condições precárias”, disse -, foi sublinhada por Ferreira da Silva, que apontou o centro de estágio como uma infra-estrutura que “enobrece a Ordem”, mas que “nos torna a todos mais responsáveis e exigentes”.

Na ocasião foi entregue a Matilde Arrobas o prémio Fernando Maia de Carvalho pelo melhor trabalho de final de estágio.

Convidado pelo Conselho Distrital de Coimbra, Carlos Candal, que Ferreira da Silva considerou um exemplo como cidadão, político e advogado, proferiu uma palestra em que misturou o humor com uma mão cheia de recomendações. Recordou os tempos em que iniciou à actividade - não existiam fotocópias, nem máquinas de escrever eléctricas - e definiu as qualidades do advogado: intuição e “aperceber-se das situações”. É necessário, ainda, algum jeito e outro tanto de vocação, sendo um “bom estágio importante para um bom início de carreira”. Falar e escrever razoavelmente e “alguma teatralidade” são outras das características, segundo Candal, de um bom advogado “e que nunca enriquece”. “O advogado é um garimpeiro. Se for honesto nunca enriquece. Quando descobre uma pepita maior troca de carro, compra casa e vai passar umas férias no estrangeiro, que é mais barato do que o Algarve” - sobraram sorrisos. Antes do alerta para “as desilusões da profissão”, uma (curta) viagem aos tempos em Timor em que “foi o melhor e o pior advogado, pois... era o único!”. Depois, uma constatação: a advocacia “só vale a pena para quem quer advogar”, disse Carlos Candal. Mas não é fácil. É preciso lidar “com o desgaste, a deslealdade dos colegas e a incompetência do juiz”. Mas vale a pena. Candal é exemplo.

 

Mário Nicolau

Notícia publicada no dia 23/10/2004 no jornal "As Beiras"



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