14-05-2010SAGRADO E PROFANO – LEI, JUSTIÇA E PERDÃO
Dia 13 de Maio, um dia de tolerância de ponto, depois de uma semana de semi-paragem quase forçada, de alguma reflexão e de banhos… de espiritualidade q.b., levaram-me a pensar ou a concluir (venha qualquer daimon e escolha!) que as virtudes divinas ou humanas da justiça e do perdão não se anulam, não se excluem, complementam-se.
Ouvir dizer que “o perdão não substitui a justiça” impõe ou, talvez melhor, convoca uma reflexão mais alargada, embora talvez não tão profunda, nem certamente tão corajosa.
A justiça é, nos tempos de hoje, um conceito que se parece querer muito próximo da reacção instintiva, primária e vingativa, se bem que por via de uma ordem aparentemente racional ou de uma rápida e mera sanção, dictat quantas vezes só ritual, virtual e mediático, imposto pela lei, ditado pela sentença ou soprado pela nova (in)justocracia acobertada pelo segredo. Dura lex, sed lex.
Tendem a privilegiar-se, num mundo em crise, as componentes encantatória, maipulatória, persecutória, coerciva e punitiva da justiça. A sede de justiça levada ao seu extremo confunde-se com a sentida necessidade de vingança e com a obsessão cega pelo castigo. Summum ius, summa injuria.
Hoje, mais do que nunca, é necessário dizer que “a justiça também não exclui o perdão”. A justiça não pode, pois, prescindir da imprescindível compreensão, do necessário afecto, da exigível confiança, de um acto de fé, ao menos na natureza humana, e da difícil virtude do perdão. Ius summum saepe summa est malitia.
Vem tudo isto a propósito da visita papal e, já agora, do basismo e da demagogia de alguns, do temor do legislador e da hipocrisia dos políticos em (não) querer elaborar, discutir e aprovar uma lei de amnistia e de perdão e da dificuldade da generalidade das pessoas e dos poderes de confessar, assumir, perdoar ou de indultar, justificar e desculpar… ou, simplesmente, pedir desculpa.
Talvez “lendo” ou “percebendo” melhor algumas das mensagens do “visitante” do momento, “perscrutando” mais aprofundadamente o espírito do “iustum”, da “lex” e do “derectum”, se chegue ao “destino”.
Até porque, em sábias palavras daquele “peregrino”, a verdade é que, no mundo moderno, “não estamos num caminho errado, não estamos é em caminho nenhum…”.
Parafraseando o “autor” do momento, até porque o momento, como todos os momentos, passará depressa, mas o resíduo de vida, de sabedoria e de cultura fica: não queiramos que os maiores inimigos da justiça sejam precisamente os profissionais do foro e os homens de leis…
Vamos, todos, mas mesmo todos, fazer esse esforço?
Ou ficará tudo na mesma?
A caminho de nada…
Carlos Pinto de Abreu
Topo