Triénio 2005-2007

10-01-2007
Advogados à lupa – in Visão – Tiago Fernandes
 

Incompetentes e careiros? Nem por isso: um inquérito diz tratar-se de uma classe estimada

 

Poucos filmes ter-se-ão baseado tanto na imagem pública da advocacia como Filadélfia. Há um advogado de renome (Tom Hanks) que quer processar os patrões por discriminação, após o terem despedido por ser portador de HIV. O único colega que aceita defendê-lo (Denzel Washington) tem fama de espertalhão e de levar a tribunal tudo e mais alguma coisa. Mas será ele quem vencerá e quem mostrará, até ao seu próprio cliente, que, afinal, as aparências iludem. A mesma ilação se retira do recente estudo feito pela Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa, acerca da função social do advogado: esbatendo o estereótipo luso dos causídicos manipuladores e que cobram couro e cabelo. Com efeito, a significativa maioria dos 1239 inquiridos considera bastante eficaz a qualidade dos serviços prestados por estes profissionais, o mesmo acontecendo em relação à justiça dos honorários e à confiança estabelecida.

Os dados deste que é o primeiro estudo em que a classe é externamente avaliada surpreenderão também os próprios advogados, uma vez que, no inquérito interno realizado em 2004, a maioria dos causídicos (50,3%) considerava que a classe tinha uma imagem pública negativa.

«Temos uma grande falta de auto-estima, fruto dos mitos de desonestidade criados pêlos filmes e pela vox populi», atesta Raposo Subtil, líder do Conselho Distrital de Lisboa (CDL) da Ordem dos Advogados (OA), a entidade que encomendou o trabalho e de cuja área geográfica provêm os inquiridos.

Para a autora, Odília Teixeira, o inquérito revela que «a competência e eficácia de resultados são determinantes para a imagem do advogado, bem como a sua postura e a partilha de informação que estabelecem com o cliente: quanto mais informado e envolvido ele estiver, melhor opinião terá sobre o seu defensor». Talvez por isso a maioria das posições abonatórias venha do lote de inquiridos (56%) que já tinham tido contacto com um advogado, o que também revela que o prestígio da classe é mais fraco para os que nunca recorreram a um defensor. «A advocacia ainda é exercida de forma distante e com códigos secretistas para muitas pessoas. Tem de haver da nossa parte um esforço maior de comunicação para com a comunidade», diz Raposo Subtil.

 

DOIS ASPECTOS CURIOSOS ressaltam do estudo: sete em cada dez dos inquiridos preferem os pequenos escritórios de advogados, numa altura em que há uma presença crescente das grandes sociedades de advocacia. «Mesmo num escritório com cem profissionais, a pessoa não dispensa o carácter personalizado do serviço», precisa o dirigente da OA. O outro dado revela uma adesão dos portugueses à advocacia preventiva - oito em cada dez consultam o causídico ainda antes de terem tomado qualquer decisão sobre uma possível acção legal.

Uma parcela dos inquiridos mostra-se, porem, desagradada com as aparições de advogados na imprensa a comentar processos mediáticos. «Participação no descrédito da Justiça», acusam. «E uma questão em que a Ordem pouco tem agido: as regras estão pouco claras e não há lugar a qualquer processo disciplinar para um advogado que se exceda na televisão», admite Raposo Subtil, defendendo «um maior controlo deontológico» para esse tipo de situações.

 

Os Números

88% consideram o serviço eficaz

65% entendem os honorários como justos

Apenas 15% conhecem o sistema de apoio judiciário

80% dizem-se informados sobre o andamento do processo e têm relação de confiança com o advogado



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